domingo, 21 de março de 2010

Dia Mundial da Marioneta – 21 de Março de 2010

Mensagem internacional de Robert Lepage

“Como muitas pessoas, fiquei profundamente comovido pelo terramoto que recentemente devastou o Haiti. Ao ver as imagens, constantemente repetidas pela televisão e pela internet, perguntei a mim próprio, entre todas as artes performativas, qual seria a mais eficaz para expressar a dimensão humana de tal cataclismo? Qual seria o melhor meio de despertar a nossa compaixão, sem cair na mera piedade, para inspirarmos solidariedade sem nos tornar-nos moralistas? E qual poderia provocar nos nossos corpos o eco da dor física das feridas e amputações?

Na verdade, perguntei a mim próprio como poderia transpor para o palco não apenas o sofrimento do povo haitiano, mas também a sua força que simultaneamente nos inspira e comove?

Parece-me que a marioneta seria o meio mais adequado para contar esta tragédia. A sua impotência, a sua vulnerabilidade, mas, ao mesmo tempo, a força da sua pureza e da sua inocência criam uma ligação íntima e única com o espectador. Esta solidariedade provém, provavelmente, de uma vantagem que tem sobre o teatro de “actores” e o cinema: o actor representa um papel, a marioneta é sempre verdadeira.

Ao contrário do actor, a crueldade que infligimos à marioneta não é fingida e quando cortamos os seus fios, a agredimos, a ridicularizamos, a humilhamos, a maltratamos ou a mutilamos, ela nunca se queixa. Reparamo-la, voltamos a pegar-lhe e, mais uma vez, volta a pôr-se de pé, tão nova como dantes.

Esta verdade confere às marionetas um poder magnífico, já que parecem ser capazes de enfrentar os malefícios do destino e possuir a coragem necessária para reconstruir um mundo em ruínas”.
Robert Lepage, Quebec, Encenador canadiano


Robert Lepage, Quebec, 1957
Artista multidisciplinar, Robert criou e dirigiu produções originais, que sacudiram o dogma das encenações clássicas, especialmente pela utilização de novas tecnologias.
Com a sua produtora Ex Machina apresentou diversas criações que lhe deram o reconhecimento internacional, como The Seven Streams of the River Ota, The Dragons’ Trilogy, The Far Side of The Moon e o The Andersen Project. Os seus trabalhos cinematográficos incluem The Confesionnal, The Polygraph, Nô e uma adaptação cinematográfica da sua peça The Far Side of The Moon.
O seu prestígio permitiu a aplicação do seu processo artístico a outros campos artísticos. Dirigiu diversas óperas como The Damnation of Faust, apresentada na New York Metropolitan Opera. Dirigiu com Peter Gabriel Secret World e Growing Up Tour. Mais tarde concebeu e dirigiu , espectáculo permanente do Cirque du Soleil, em Las Vegas, que estreou em Fevereiro de 2005.
Em 2008, para os quatrocentos anos da cidade do Quebec, Robert Lepage e Ex Machina criaram a maior projecção arquitectónica jamais realizada: The Image Mill. As obras de Robert Lepage têm recebido inúmeros prémios. A sua última encenação, The nightgale and other fables, combinou cantores de ópera com sombras e marionetas.

Via UNIMA Internacional

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