quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

SORRY, BOYS de Marta Cuscunà > São Luiz Teatro Municipal


SORRY, BOYS de Marta Cuscunà (Itália)
Diálogo sobre um pacto secreto para 12 cabeças cortadas
Livremente inspirado em eventos reais ocorridos em Gloucester, Massachusetts

Depois de ter esgotado por três noites com A Simplicidade Traída a Sala Mário Viegas, Marta Cuscunà regressa ao São Luiz com Sorry, Boys.

Uma parceria entre o São Luiz Teatro Municipal e A Tarumba - Teatro de Marionetas

Estreia Nacional
18 e 19 de Março de 2017 
São Luiz Teatro Municipal - Sala Luís Miguel Cintra
Sábado às 21h – Domingo às 17h30

18 de Março: conversa com a equipa artística após o espectáculo

Em italiano, legendado em português
€12 (com descontos €5 - €8,40)
Público-alvo: +14 | Duração: 75 min
Todas as informações aqui + bilheteira online São Luiz Teatro Municipal


Em 2008, 18 alunas do liceu de Gloucester, com idade inferior a 16 anos, ficam simultaneamente grávidas. Aparentemente, não se trata de uma gravidez acidental para nenhuma delas. Algumas das raparigas teriam planeado a gravidez juntas, como parte de um acordo secreto para criarem as crianças numa espécie de comunidade feminina.
Qual será o contexto social em que este projeto viral de maternidade poderia ganhar força?
Ao fundo da cena, duas linhas de cabeças cortadas. De um lado, adultos. Do outro, os jovens pais adolescentes.
Sorry, Boys é a terceira parte da trilogia de Marta Cuscunà sobre a Resistência Feminina.






A História
“Tudo começou como um boato no liceu em Gloucester. Há 18 raparigas grávidas - número quatro vezes superior à média - e não parece ter sido para todas um acidente. A história chega à cidade: algumas das raparigas teriam planeado juntas a gravidez, como parte de um pacto secreto, para as crianças crescerem numa espécie de comuna feminina. Quando o director da escola fala sobre isto num jornal nacional, torna-se num evento da comunicação social e a vida privada das 18 raparigas choca toda a comunidade de Gloucester. Jornalistas da Austrália à Grã-Bretanha, do Brasil ao Japão enchem a cidade, e tentam encontrar uma explicação para este pacto perturbador. Mas ficam de mãos vazias, porque toda a comunidade se fecha em silêncio absoluto, perturbada pelo facto de a vida sexual das suas filhas se ter tornado um dos temas principais em talk shows de todo o mundo. The Gloucester 18 é um documentário onde algumas destas raparigas falam pela primeira vez, longe das luzes do escândalo. Uma delas admite que queria criar um pequeno mundo novo e uma nova família, depois de ter testemunhado um terrível feminicídio. Esta descoberta foi para mim um sinal alarmante.

Fontes Documentais
Continuei a procurar notícias sobre Gloucester, para entender o contexto social que poderia ter originado a ideia de um pacto tão perturbador. Encontrei outro documentário, Breaking our silence, em que o chefe da polícia revela que o seu departamento em Gloucester recebe todos os dias queixas de violência doméstica masculina. Relata dados impressionantes: 380 chamadas por violência doméstica num ano (mais de uma por dia) e 179 prisões, numa comunidade de 30000 habitantes. Mas o mais interessante é que o documentário revela como esta situação levou 500 homens a organizarem uma marcha nas ruas da cidade, para sensibilizarem a comunidade sobre este problema. Eles definem-se como homens contra a violência. Em entrevistas, a maioria declara sentir a necessidade de fazer algo pessoalmente, porque a violência masculina é um problema feminino (a que as mulheres estão sujeitas), mas que só os homens podem realmente resolver, mudando a mentalidade masculina dominante que continua a causar estas tragédias. A ideia que está na base de Sorry, Boys, é que em Gloucester a simultaneidade do acordo entre as 18 raparigas e a marcha dos homens, não foi apenas uma coincidência, e está relacionada com o modelo de masculinidade que a sociedade impõe aos homens.

Cabeças Cortadas
Na escuridão do palco, duas linhas de cabeças cortadas. Penduradas. De um lado, adultos. Pais, o director, a enfermeira da escola. Do outro, os jovens pais adolescentes. Todos pendurados como troféus de caça, todos pregados contra a parede por causa de uma história que não os encontrou preparados. Podem tentar esforçarem-se para entender as razões de um acordo de maternidade entre adolescentes, mas vão ficar sempre presos à parede. As cabeças da série de fotografias We are beautiful realizadas pelo fotógrafo Antoine Barbot, em 2012, durante o seu estágio no estúdio de Erwin Olaf, foram a inspiração para a concepção das máquinas cénicas de Sorry, Boys.”
-Marta Cuscunà


De e com: Marta Cuscunà Projecto e realização das cabeças cortadas: Paola Villani Assistente de encenação: Marco Rogante Desenho de luz: Claudio “Poldo” Parrino Desenho de som: Alessandro Sdrigotti Animações gráficas: Andrea Pizzalis Figurinos: Andrea Ravieli Fotografias: Alessandro Sala/Cesuralab para Centrale Fies, Daniele Borghello
Co-produção: Centrale Fies, com o financiamento de Provincia Autonoma di Trento, Ministero dei Beni e delle Attività Culturali e del Turismo Com o apoio de: Operaestate Festival, Centro Servizi Culturali Santa Chiara, Comune di San Vito al Tagliamento Assessorato ai beni e alle attività culturali, Ente Regionale Teatrale del Friuli Venezia Giulia Difusão: Laura Marinelli Cabeças gentilmente cedidas por: Eva Fontana, Ornela Marcon, Anna Quinz, Monica Akihary, Giacomo Raffaelli, Jacopo Cont, Andrea Pizzalis, Christian Ferlaino, Pierpaolo Ferlaino, Filippo pippogeek Miserocchi, Filippo Bertolini, Davide Amato Marta Cuscunà integra o projeto Fies Factory

Motherlode / Drodesera 2015: Marta Cuscunà (IT) / Sorry, Boys from Centrale Fies on Vimeo.

“Homens-objectos, mulheres-bonecas... Não é preciso sublinhar as metáforas para notar que as marionetas oferecem uma matéria eloquente para questionar os estereótipos de género. A jovem artista italiana Marta Cuscunà (...) não se enganou - ela que tem trabalhado durante vários anos numa trilogia sobre a resistência feminina.
Manifesto hominista, interpretado por uma actriz e um exército de cabeças cortadas, modeladas, dispostas como troféus no placo, onde as protagonistas femininas estão ausentes, Sorry, Boys levanta questões sobre como reformular, finalmente, os contornos da masculinidade.”
-Ève Beauvallet, Libération

“Os exploradores de ouro, tal como os espectadores de teatro, avançam por vezes com pouca esperança, mas acabam por tropeçar numa pepita. Foi isto o que aconteceu com o espectáculo de Marta Cuscunà. Inspirado numa história verdadeira, em que dezoito adolescentes decidem engravidar ao mesmo tempo, Sorry, Boys denuncia uma sociedade onde o patriarcado é rei. Não vemos as raparigas que comunicam por SMS. A palavra é deixada aos rapazes, instalados em frente a um filme pornográfico, e aos adultos, longe de compreenderem as suas filhas (...). Sorry, Boys propõe uma alternativa ao mundo em que vivemos, e esta alternativa vem, não apenas de um grupo de mulheres, mas de um grupo de raparigas muito jovens. Quem disse que as marionetas são apenas para crianças?”
-Audrey Santacroce, I/O: La Gazette des Festivals

“(...) A Cuscunà, sozinha no palco, como é seu hábito, é auxiliada por um dispositivo técnico engenhoso, que também se transforma instantaneamente numa eficaz síntese metafórica: doze cabeças de látex fixadas como troféus de caça na parede. Estas cabeças, que se movem na perfeição, imitando uma gama de expressões faciais de uma forma impressionantemente hiper-realista, evocam uma amostra eloquente da população local, ao mesmo tempo que sugerem a ideia de uma sociedade embalsamada na sua própria hipocrisia, nos seus preconceitos.
(...) Pequena, aparentemente frágil, a Cuscunà enfrenta a ribalta com espírito guerreiro. Escolheu um papel no teatro italiano de hoje, e incorpora-o com clareza e grande determinação, tentando cada vez mais expandir e aprofundar os temas analisados.
Neste espectáculo (...) a Cuscunà confirma as extraordinárias habilidades miméticas já demonstradas em trabalhos anteriores: escondida no escuro, é excelente a dar diferentes vozes e personalidades a cada uma das personagens e manipulando-as (...).”
-Renato Palazzi, Il Sole 24 ORE

“(...) Marta Cuscunà (...) conta-nos uma história de mulheres, cheia de violência e com o rasgo de uma utopia, inspirando-se numa história verdadeira (...) a dar voz e carácter a doze personagens e para manipular os rostos de uma forma surpreendente, graças à expressividade das esculturas móveis de Paola Villani.
O espectáculo é muito impressionante e de rigor absoluto, correndo linearmente em direcção ao seu desenlace, quando Marta Cuscunà se mostra apenas na penumbra, como um sinal de verdade. Aplausos estrondosos (...).”
-Alfonso Cipolla, Torino - Repubblica


BIO
Marta Cuscunà nasceu em Monfalcone, uma pequena cidade operária conhecida pelo seu estaleiro, onde se constroem os maiores navios de cruzeiro do mundo, e por deter o recorde do número de mortes por doenças provocadas pelo amianto.
Em 2001 participou no laboratório Fare Teatro, concebido e realizado por Luisa Vermiglio. Esta experiência, que juntou a investigação teatral à reflexão sobre a dinâmica social do território, tornou-se para Marta uma espécie de marca artística.
Marta Cuscunà estudou na "Prima del Teatro": European School for the Art of the Actor, onde conheceu alguns dos grandes mestres do teatro contemporâneo: Joan Baixas, com quem estudou a linguagem do teatro visual; José Sanchis Sinisterra, graças ao qual começou a estudar dramaturgia; Christian Burgess, autor de um projecto de teatro inédito para actores e músicos; e muitos outros.
Em 2006 fez a sua estreia internacional em "Merma Neverdies", espectáculo com marionetas de Joan Miró, dirigido por Joan Baixas, produzido por Elsinor-Barcelona exclusivamente para a Tate Modern, em Londres.
Em 2007 voltou a actuar em Itália com "Indemoniate", espectáculo de Giuliana Musso e Carlo Tolazzi, dirigido por Massimo Somaglino.
Em Maio de 2009 começou a trabalhar em Espanha no espectáculo "Zoé, inocencia criminal", produção do Teatre de la Claca, Barcelona, dirigido por Joan Baixas.
Em 2009, ganhou o " Premio Scenario Ustica" com “E' bello vivere liberi!”, um projecto para uma actriz, 5 marionetas e uma boneca, escrito, dirigido e interpretado por Marta Cuscunà.
Em 2011 obteve uma bolsa de estudos para participar em "… think only this of me...", um projecto para actores e músicos da Guildhall School of Music and Drama (Londres), dirigido por Christian Burgess.
Em 2012 estreia o seu segundo projecto "A simplicidade traída" (La semplicità ingannata).
Desde 2009 faz parte do projecto Fies Factory da Central Fies.
Tem ganho diversos prémios e foi nomeada para o Premio Ubu 2016, na categoria de melhor actriz/performer, pela sua interpretação em "Sorry, Boys".

SPOT #2 - Marta Cuscunà / Sorry, boys | CENTRALE FIES _ Augmented Residency from Centrale Fies on Vimeo.

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